A Geração do Burnout

Por que o esgotamento profissional afeta tanto as pessoas de todas as faixas etárias, mas, especialmente, os millenials atualmente? 

Certamente, não existem respostas simples e fáceis para esse questionamento, no entanto, a questão merece relevo devido à grande prevalência do diagnóstico de esgotamento profissional, quase como se fosse uma “epidemia” de burnout, com ênfase no público de 25 a 40 anos de idade, no Brasil e em países diversos, especialmente aqueles em desenvolvimento ou já desenvolvidos.  

Uma das principais razões para a existência desse quadro preocupante em termos de saúde mental coletiva é a mudança acelerada nas relações de trabalho, em geral promovidas pela desregulamentação dos mercados, mas em particular pela menor estabilidade e sentimento de segurança no emprego, além de metas quase inatingíveis e prazos exíguos. 

Embora a doença seja de difícil diagnóstico, porque pode ser facilmente interpretada pelo profissional de saúde como depressão, o CID-10[2] código Z73 aponta que se trata de um quadro de “estresse crônico e permanente” relacionado às atividades profissionais e organização do modo de vida. 

Nesse sentido, o paciente trabalha em condições, cujas exigências e requisitos, levam a um desgaste mental muito superior às suas capacidades de gerenciamento e suporte dessas demandas (por parte do trabalho) e suas emoções.  Quando diagnosticado com burnout, é possível que o paciente manifeste: (a) sentimento de ineficácia ao desempenhar as suas atividades, (b) redução da energia ou completa exaustão física, e (c) a procura por manter-se relativamente distante, de um ponto de vista emocional, quando está trabalhando, além da manutenção de sentimentos negativos. Tais sintomas não são os únicos e nem exclusivos para embasar qualquer diagnóstico. 

A consulta com um profissional é necessária para o devido tratamento.           Retornando ao caso dos millenials, em específico, as causa mais comuns para o desenvolvimento da doença são desde as relações de trabalho deterioradas, tais como os subempregos e ocupações intermitentes, como os desafios de conciliar as exigências do trabalho com as inúmeras outras obrigações características de um mundo digital, como por exemplo: acompanhar todas as redes sociais, manter uma qualificação contínua por meio do estudo à distância e, além disso, sustentar as expectativa de ser agradável ou desejável em todas as redes, recebendo curtidas, seguidores e compartilhamentos (desde o Linked In, Facebook até o Instagram e Tik Tok, por exemplo). Assim, as redes sociais que devem contribuir para a sociabilidade podem tornar-se fonte de profunda ansiedade e descontentamento, em geral, e com o trabalho, em particular. 

O mal gerenciamento do excesso de conteúdo e informações pode ser prejudicial, provocando sintomas capazes de levar ao burnout, uma vez que dificilmente é possível separar o trabalho dos momentos de lazer - eliminando dessa forma as possibilidades de descanso e causando grande confusão mental e sentimento de inferioridade ou desamparo.

 Ademais, as redes sociais podem apresentar a ilusão de que termos sucesso profissional do dia para a noite, acompanhado de uma vida de muita diversão e gastos sem fim, sendo mais um fator capaz de gerar frustração para o jovem adulto que já não consegue administrar as suas exigências, cobranças, tempo e sentimentos ligados ao mundo do trabalho. 

Tendo em vista um espectro muito amplo de sintomas, o tratamento começa com a busca pela redução da ansiedade, atuando no fortalecimento espiritual do indivíduo, com vistas também à estabilização do seu humor.

 Isto é, minimizando a ansiedade através de técnicas de relaxamento (hipnoterapia). A abordagem terapêutica visa, também, avaliar e sugerir a melhor utilização do tempo, a prática de atividades físicas e a redução da exposição à conteúdos tóxicos ou sensíveis na internet e redes sociais, relacionados ou não ao trabalho, mas que favorecem o esgotamento profisssional. 

Em suma, o tratamento psicoterápico associado à hipnoterapia, tem por finalidade orientar o paciente no planejamento de suas atividades cotidianas, a fim de que o trabalho se torne prazeroso e produtivo.


   [1] Pessoas nascidas após 1980 e até pouco antes de 2000 que também são conhecidas como a geração Y na Sociologia.  

 [2]O CID é a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde, em cooperação com diversas associações médicas, psicológicas e sociais. Atualmente, a classificação está na sua 11ª revisão (CID-11), com diversas atualizações que contemplam inclusive o Burnout.