Neste artigo quero abordar uma das patologias gastrointestinais que pode ser tratada com a psicologia e, principalmente, a hipnose clínica. Trata-se da Síndrome do Intestino Irritável (SII).
Essa síndrome é uma doença debilitante. Isso porque os pacientes podem sentir dor, inchaço e cólicas, junto de diarreia, constipação ou uma combinação de ambos. Esses movimentos desagradáveis provocam as dores agudas na região do abdômen (ou barriga para simplificar).
Aliás, as dores são as principais características da Síndrome. Atualmente, o tratamento para a SII consiste em duas frentes de ação:
(i) a partir de medicamentos prescritos por um médico especialista (gastroenterologista) que diminuem os espasmos e contrações na região;
(ii) o tratamento segue com as psicoterapias, isto é, as terapias com a psicologia clínica. Por esse caminho, os sentimentos negativos e a ansiedade são abordados.
Ambos são gatilhos para as dores abdominais, inchaços e cólicas, desencadeando uma crise gastrointestinal com repercussões psicológicas (na maneira como o indivíduo entende o seu dia e a sua realidade).
Logo, a SII e as demais patologias gastrointestinais sempre foram diagnosticadas como sendo de origem psicossomática. A origem do conceito está nas palavras gregas psique e soma, que significam, respectivamente, alma e corpo, em português.
Assim sendo, quando um transtorno mental e seus sintomas ou, até mesmo, um conflito individual não é resolvido, cria-se uma condição necessária e suficiente para que o problema passe para o corpo.
Nesse caso, pode-se afirmar que o paciente está “somatizando” o seu transtorno ou conflito psicológico, em sentido estrito, e mental, em sentido amplo. Diante do que exposto sobre a doença e seu tratamento cabe, então, apresentar a contribuição da hipnose clínica no seu tratamento.
Existem muitos e diferentes estudos científicos comprovando a eficácia da hipnose para o tratamento das patologias gastrointestinais, em geral, e da SII, em particular.
O primeiro estudo, aleatório e controlado sobre os efeitos da hipnose, na síndrome do intestino irritável (SI1) foi publicado na Lancet, em 1984, pelo Grupo de Manchester (UK).
Essa investigação revelou, pela primeira vez, a excelente melhoria dos sintomas desta síndrome em doentes resistentes à terapêutica convencional, quando submetidos à hipnose.
Como consequência, outros trabalhos se seguiram, na verdade mais de quinze, antes das últimas duas décadas, incluindo publicações de artigos científicos nos Estados Unidos.
As suas conclusões, em geral, apontam para uma melhora sintomática acima dos 80% nos pacientes estudados pelos métodos de pesquisa em saúde, isto é, indivíduos escolhidos aleatoriamente, organizados em grupo de controle e placebo, além de tantos outros métodos, que terminam com a double blind review (revisão sem o nome dos autores) do artigo científico, antes da publicação.
A melhora é, em muitos casos, imediata e mantida, ao contrário do que é habitual com o tratamento convencional. A minha experiência demonstra que a hipnoterapia alivia rapidamente os sintomas desta síndrome, que se encontra agrupada nas perturbações funcionais digestivas, e já foi atestada por colegas da área de saúde e medicina.
Em suma, a hipnoterapia tem sido utiliza, com muito êxito ao longo dos tempos, já que passou por muitas provas e ainda é questionada, geralmente pelo público não especializado (distante das pesquisas e práticas). Apesar disso, os resultados de uma pesquisa científica de saúde não dependem da opinião pública a favor ou contra em determinada época.
Para isso existe, justamente, uma metodologia científica e um exercício clínico da hipnose, com base no conhecimento obtido nas pesquisas e na própria prática ao longo das décadas.
Na minha experiência com a aplicação da hipnose para esses e outros casos, com um olhar psicológico, devido à minha formação e prática desde a década de 1990, os resultados com meus pacientes corroboram aqueles obtidos pelas principais pesquisas e publicações.